Uma
simples cirurgia de vesícula, sem grandes preocupações, isso era tudo que
imaginávamos, porém, infelizmente,
para meu filho não foi assim que aconteceu.
Depois
de uma semana da realização da cirurgia ele começou a sentir fortes dores.
Levado ao médico, o mesmo o encaminhou para o hospital imediatamente para
refazer uma série de exames.
Já
internado e ainda sentindo dores, realizou um exame denominado angioressonância,
pois havia a suspeita que alguma pedrinha pudesse ter migrado para o canal do
pâncreas.
Pela
coloração do Guilherme, um tanto amarelada, era quase certa a existência dessa
pedra. O exame foi realizado, ela foi detectada e extraída.
A
presença desse cálculo fez com que meu filho contraísse uma pancreatite,
fazendo com que o nível da amilase chegasse a 45 mil, sendo que o normal é
abaixo de 300.
Na
noite do aludido procedimento, por ser uma sexta-feira eu fui dormir em casa e
meu marido ficou com ele no hospital.
No
sábado, logo de manhã, o Túlio me ligou para dizer que o Guilherme ainda sentia
fortes dores. Ele havia vomitado e evacuado sangue, passara uma noite de
verdadeiro terror.
Disse
que o Gui havia sido levado para fazer um exame de endoscopia, para que os
médicos pudessem verificar se havia algum sinal de hemorragia interna.
Naquele
momento eu perdi o chão, fiquei rezando, orando para que tudo corresse bem com
meu filho. Meu coração doía, não sabia o que fazer. As horas não passavam e eu
ansiosa esperava a ligação de meu marido.
Ao ligar ele me deu uma notícia maravilhosa,
estava tudo bem, não havia mais sangramento, porém ele havia perdido muito
sangue, estava fraco e o médico por precaução achou por bem mandá-lo para a
UTI.
Fiquei
feliz com a primeira parte da notícia, mas ao dizer que nosso filho estava indo
para a UTI eu pensei que fosse desmaiar, era como se eu tivesse levando uma
facada no estômago, comecei a chorar compulsivamente, não acreditava no que
estava ouvindo, não queria e não podia, então soluçando lhe disse:
-
Eu estou com medo!
Como
assim, eu que sempre confiei no poder de Nossa Mãe Imaculada poderia estar com
medo?
Eu tinha que confiar, ter fé, crer no melhor, mas nessas horas é tão difícil
se manter confiante, ainda mais diante de um quadro tão assustador.
Meu
maridão se mantinha firme e tentava me acalmar, me explicou que UTI não tem
mais aquela conotação de “pré morte”.
Eu
estava sozinha em casa, minha filha estava no cursinho, nunca me senti tão solitária
na vida, tão vulnerável, desolada, desorientada, nem minha cachorra estava em
casa.
Caminhava
de um lado para o outro e pensava:
-
O que eu devo fazer? O que eu posso
fazer? Com quem eu devo falar?
Me ajoelhei aos pés de minha Santinha,
chorei, pedi, rezei, supliquei para que Ela não saísse do lado dele, o
protegesse, o salvasse.
Precisando tanto falar com alguém o
telefone tocou, era meu irmão Hélio.
Tentei segurar, não chorar, afinal fui
treinada a ser forte, não deixar a peteca cair, porém, de uma maneira
maravilhosa ele me disse:
- Pode
desabafar maninha, chora, não precisa segurar, desabafa maninha.
Naquele momento eu desabei, percebi que
precisava chorar, desabafar, era meu filho amado, como segurar esse sentimento?
Respirei fundo depois de falar com ele,
pois precisava ir buscar a Érika no cursinho, porém no caminho minha irmã ligou
e mais uma vez desabei.
Ela estava ao lado de minha mãe e sinto
tanto em tê-las assustado daquela maneira, eu não queria, achava que não devia,
mas eu não pude evitar, era um sofrimento, uma dor que eu nunca havia sentido.
Peguei minha filha e fomos voando para o
hospital, ela ainda não estava entendendo bem o que era estar numa UTI, mas ficou
firme comigo e fomos ao encontro do Túlio.
Chegando no quarto onde estava o
Guilherme, assisti uma cena que, com certeza, nunca mais esquecerei.
Meu marido querido sentado na poltrona
do quarto sozinho, chorando, triste demais, pois haviam levado o nosso filho para
a UTI.
Nos abraçamos forte e nesse momento a
Érika percebeu a seriedade do problema.
Fomos vê-lo na UTI e eu não podia
acreditar que meu filho havia chegado naquele estado em função de uma simples
cirurgia de vesícula, porém, são coisas que acontecem, que fogem de nosso
controle, de nosso entendimento.
Sair
do hospital sem ele foi outro martírio, deixá-lo naquele lugar sozinho, meu
Deus que sentimento horrível.
Me
lembrei de quando saí com ele da maternidade num “moisés” verde e ele chorava
muito, precisei levá-lo no colo, acho que ele já nasceu corinthiano!
Ficava
esperando a hora da visita, meia horinha de manhã e meia horinha a noite. Observava
as pessoas chegando para as visitas, os familiares, todos naquele clima
horrível, de tristeza, de dor, de esperança, de despedida.
Na
segunda-feira ao levar a Érika para o cursinho, eu que não havia dormido quase
nada, estava péssima, chorava o tempo todo, porém, ela me surpreendeu, pois de
uma forma adulta e equilibrada me disse:
- Mãe, para
com isso, seja positiva, pense positivo, haja com fé, você sempre foi uma
mulher otimista, para de agir assim, caso venha algo negativo em sua cabeça,
reza, tira da cabeça, levanta, se erga, ele precisa de uma mãe forte!
Depois
que a deixei percebi que realmente foi um belo chacoalhão, eu estava tão desanimada,
minha vontade era voltar para casa, me deixar envolver naquela tristeza que me
consumia, mas ela estava certa, não ia adiantar ficar pensando coisas ruins,
sacudi a poeira, levantei a cabeça, passei a confiar que realmente tudo daria
certo, que Minha Mãezinha nunca havia me abandonado e não seria nesse momento
que Ela iria me deixar na mão.
Uma
paz invadiu meu ser, respirei aliviada, olhei para o céu, o sol brilhava forte,
parecia que algo nele me dizia para acreditar que tudo daria certo.
Nesse
mesmo dia recebemos a noticia que todos os exames haviam melhorado e que no
outro dia ele teria alta da UTI.
Obrigada
a todos que estiveram comigo nesse momento, os que me ligaram diariamente, os
que fizeram suas preces para a recuperação do Guilherme, que torceram, que
oraram e se preocuparam. Obrigada!
E,
para terminar, quero fazer das palavras do meu marido ditas ao Guilherme na
UTI, as minhas também:
-
Mesmo que nosso barco seja pequeno e por
maior que seja a onda, mais forte e brava, estarei sempre com você, para
juntos, enfrentarmos qualquer tempestade!!!
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