quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Meu filho na UTI


 Uma simples cirurgia de vesícula, sem grandes preocupações, isso era tudo que imaginávamos, porém, infelizmente, para meu filho não foi assim que aconteceu.
Depois de uma semana da realização da cirurgia ele começou a sentir fortes dores. 
Levado ao médico, o mesmo o encaminhou para o hospital imediatamente para refazer uma série de exames.
Já internado e ainda sentindo dores, realizou um exame denominado angioressonância, pois havia a suspeita que alguma pedrinha pudesse ter migrado para o canal do pâncreas.
Pela coloração do Guilherme, um tanto amarelada, era quase certa a existência dessa pedra. O exame foi realizado, ela foi detectada e extraída.
A presença desse cálculo fez com que meu filho contraísse uma pancreatite, fazendo com que o nível da amilase chegasse a 45 mil, sendo que o normal é abaixo de 300.
Na noite do aludido procedimento, por ser uma sexta-feira eu fui dormir em casa e meu marido ficou com ele no hospital.
No sábado, logo de manhã, o Túlio me ligou para dizer que o Guilherme ainda sentia fortes dores. Ele havia vomitado e evacuado sangue, passara uma noite de verdadeiro terror.
Disse que o Gui havia sido levado para fazer um exame de endoscopia, para que os médicos pudessem verificar se havia algum sinal de hemorragia interna.
Naquele momento eu perdi o chão, fiquei rezando, orando para que tudo corresse bem com meu filho. Meu coração doía, não sabia o que fazer. As horas não passavam e eu ansiosa esperava a ligação de meu marido. 
Ao ligar ele me deu uma notícia maravilhosa, estava tudo bem, não havia mais sangramento, porém ele havia perdido muito sangue, estava fraco e o médico por precaução achou por bem mandá-lo para a UTI.
Fiquei feliz com a primeira parte da notícia, mas ao dizer que nosso filho estava indo para a UTI eu pensei que fosse desmaiar, era como se eu tivesse levando uma facada no estômago, comecei a chorar compulsivamente, não acreditava no que estava ouvindo, não queria e não podia, então soluçando lhe disse:
- Eu estou com medo!
Como assim, eu que sempre confiei no poder de Nossa Mãe Imaculada poderia estar com medo? 
Eu tinha que confiar, ter fé, crer no melhor, mas nessas horas é tão difícil se manter confiante, ainda mais diante de um quadro tão assustador.
Meu maridão se mantinha firme e tentava me acalmar, me explicou que UTI não tem mais aquela conotação de “pré morte”.
Eu estava sozinha em casa, minha filha estava no cursinho, nunca me senti tão solitária na vida, tão vulnerável, desolada, desorientada, nem minha cachorra estava em casa.
Caminhava de um lado para o outro e pensava:
- O que eu devo fazer? O que eu posso fazer? Com quem eu devo falar?
Me ajoelhei aos pés de minha Santinha, chorei, pedi, rezei, supliquei para que Ela não saísse do lado dele, o protegesse, o salvasse.
Precisando tanto falar com alguém o telefone tocou, era meu irmão Hélio. 
Tentei segurar, não chorar, afinal fui treinada a ser forte, não deixar a peteca cair, porém, de uma maneira maravilhosa ele me disse:
- Pode desabafar maninha, chora, não precisa segurar, desabafa maninha.
Naquele momento eu desabei, percebi que precisava chorar, desabafar, era meu filho amado, como segurar esse sentimento?
Respirei fundo depois de falar com ele, pois precisava ir buscar a Érika no cursinho, porém no caminho minha irmã ligou e mais uma vez desabei.
Ela estava ao lado de minha mãe e sinto tanto em tê-las assustado daquela maneira, eu não queria, achava que não devia, mas eu não pude evitar, era um sofrimento, uma dor que eu nunca havia sentido.
Peguei minha filha e fomos voando para o hospital, ela ainda não estava entendendo bem o que era estar numa UTI, mas ficou firme comigo e fomos ao encontro do Túlio.
Chegando no quarto onde estava o Guilherme, assisti uma cena que, com certeza, nunca mais esquecerei.
Meu marido querido sentado na poltrona do quarto sozinho, chorando, triste demais, pois haviam levado o nosso filho para a UTI.
Nos abraçamos forte e nesse momento a Érika percebeu a seriedade do problema.
Fomos vê-lo na UTI e eu não podia acreditar que meu filho havia chegado naquele estado em função de uma simples cirurgia de vesícula, porém, são coisas que acontecem, que fogem de nosso controle, de nosso entendimento.
Sair do hospital sem ele foi outro martírio, deixá-lo naquele lugar sozinho, meu Deus que sentimento horrível.
Me lembrei de quando saí com ele da maternidade num “moisés” verde e ele chorava muito, precisei levá-lo no colo, acho que ele já nasceu corinthiano!
Ficava esperando a hora da visita, meia horinha de manhã e meia horinha a noite. Observava as pessoas chegando para as visitas, os familiares, todos naquele clima horrível, de tristeza, de dor, de esperança, de despedida.
Na segunda-feira ao levar a Érika para o cursinho, eu que não havia dormido quase nada, estava péssima, chorava o tempo todo, porém, ela me surpreendeu, pois de uma forma adulta e equilibrada me disse:
- Mãe, para com isso, seja positiva, pense positivo, haja com fé, você sempre foi uma mulher otimista, para de agir assim, caso venha algo negativo em sua cabeça, reza, tira da cabeça, levanta, se erga, ele precisa de uma mãe forte!
Depois que a deixei percebi que realmente foi um belo chacoalhão, eu estava tão desanimada, minha vontade era voltar para casa, me deixar envolver naquela tristeza que me consumia, mas ela estava certa, não ia adiantar ficar pensando coisas ruins, sacudi a poeira, levantei a cabeça, passei a confiar que realmente tudo daria certo, que Minha Mãezinha nunca havia me abandonado e não seria nesse momento que Ela iria me deixar na mão.
Uma paz invadiu meu ser, respirei aliviada, olhei para o céu, o sol brilhava forte, parecia que algo nele me dizia para acreditar que tudo daria certo.
Nesse mesmo dia recebemos a noticia que todos os exames haviam melhorado e que no outro dia ele teria alta da UTI.
Obrigada a todos que estiveram comigo nesse momento, os que me ligaram diariamente, os que fizeram suas preces para a recuperação do Guilherme, que torceram, que oraram e se preocuparam. Obrigada!
E, para terminar, quero fazer das palavras do meu marido ditas ao Guilherme na UTI, as minhas também:
- Mesmo que nosso barco seja pequeno e por maior que seja a onda, mais forte e brava, estarei sempre com você, para juntos, enfrentarmos qualquer tempestade!!!

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