domingo, 5 de dezembro de 2010

O meu inesquecível Sogrão



Há uma semana ficamos mais burros, sim é verdade, uma grande pessoa, uma cabeça brilhante, de uma inteligência rara nos deixou, nos disse adeus.

Meu sogro foi viajar junto às estrelas do céu, foi entender os mistérios dessa vida, buscar conhecimento daquilo que acredito era sua única dúvida, o que virá depois da morte?

Para nós que ficamos sem essa figura brilhante, importa-nos o que ficou, o que nos deixou de melhor, suas histórias, seus conselhos, sua vida marcada por momentos de grande sabedoria.

A nossa maior felicidade sem dúvida é essa, lembrar-nos de todas as ocasiões que passamos juntos, inúmeras viagens que proporcionamos a ele, aniversários que fazíamos questão de sua presença, natais, passeios e principalmente quando em sua casa sentado em sua poltrona ouvíamos atentamente suas histórias magníficas.


Leitor voraz, lia desde Paulo Coelho a Dostoiévski, me lembro que quando eu lia um livro desses que vivem no topo como os mais lidos e odiava eu logo ia lhe perguntar:
- Sr. Artêmio. eu li tal livro e odiei, o que o Sr. achou desse livro?

Ao me dar sua opinião, dizendo que também tinha achado uma porcaria, aliviada eu pensava:

- Puxa vida que bom, se ele não gostou, então realmente eu não estou errada.

Mesmo estando no topo, todo mundo dizendo que tal livro era o máximo, para mim a opinião dele era a que valia, sem dúvida, a mais sábia.


Nos últimos anos, dou Graças a Deus os lindos momentos que passamos juntos, a viagem de navio que ele titubeou até o último minuto, mas insistentemente não nos acomodamos, o Túlio lutou para que ele fosse, só pensávamos no bem que isso podia lhe proporcionar e mais uma vez nós conseguimos (o Túlio conseguiu, ele veio).

Nunca iremos nos esquecer de seus olhinhos brilhando ao entrar no navio, de seu rosto iluminado e maravilhado ao assistir aos shows a bordo, a alegria desde o café da manhã, o Natal repleto de músicas e dança, ele que até uns dias atrás se dizia doente, não parecia meu sogro, não parecia.
Ele brindou, cantou e se juntou à alegria contagiante daquele momento, nem se lembrava mais de alguma doença.
Ano seguinte, outro momento marcante e também de luta para fazê-lo vir, ele era manhosinho sim né sogrão, no aniversário de sua princepesa (era assim que ele chamava a Érika).

Num de nossos últimos encontros, disse a ele que agradecia todos os dias por ter celebrado os 15 anos de minha filha, com aquela festa linda, pois ele veio, não foi fácil fazê-lo vir, achava que não ia dar conta, mas meu marido, seu filho, que o amava mais que tudo, que só queria dele a felicidade, só queria a sua companhia e seu carinho insistiu, preparou tudo nos mínimos detalhes para a vinda del e ele veio.

Eu sempre dizia lhe dizia:
- O Sr. tem que vir, já está tudo preparado para o momento da valsa, o Sr. tem que dançar com a Érika.
E ele veio, e dançou, se emocionou, deu seu depoimento que ela terá para sempre, a sua principesa.

Depois da festa, por várias vezes que voltamos em RP, ele nos contava de sua emoção ao ver a Erikinha aparecer no alto do salão, podíamos sentir o brilho de emoção, orgulho e alegria ao comentar esse momento.

Pode ter certeza sogrão, a nossa alegria foi muito maior, isso não tem preço, não cabe no bolso, só cabe no coração.
Ele se foi, vai nos deixar empobrecidos de tanta coisa, mas temos a convicção que tudo fizemos para lhe proporcionar alegrias, nunca preocupações e aborrecimentos. Isso a gente sempre guardou bem quietinho para nós. O Túlio sempre me dizia, eu quero vê-lo feliz, o que ele tem pra me dar é sua história de vida, o seu exemplo, a sua coragem, o resto é minha obrigação correr atrás.

Em sua última passagem por São Paulo, sentados à mesa após o jantar, ele nos contou toda a sua trajetória de vida, ainda moleque de calça curta saiu com o pai em busca de uma vida melhor, depois nos contou como ingressou no exército, como se casou, já estava casado quando se formou dentista, e por ai vai, mas tudo contado com riquesa de detalhes, se lembrava do nome de cada um que passou por ele, seus companheiros de exército, professores da faculdade. Se contado por outra pessoa uma história assim tão longa e detalhista, tornar-se-ia uma coisa chata, cansativa, mas por ele não, ele tinha esse dom, ficávamos a degustar cada palavra, atentos para não perder nenhum detalhe, era como se a gente num filme 4D entrássemos dentro de suas histórias e pudéssemos participar daqueles momentos. Ele era realmente brilhante.

Vá com Deus sogrão, compartilhe com Ele suas dúvidas, aprenda muito (ainda mais) para que ao chegarmos ai, tenha muitas histórias lindas pra nos contar, fique em paz, descanse no reino dos céus, nos envie sempre a sua benção.
Amém!!!